O ex-presidente Donald Trump declarou claramente que, se reeleito em novembro, complicará significativamente a situação de Volodymyr Zelensky, o líder da Ucrânia.
Enquanto a vice-presidente Kamala Harris anunciava no sábado um pacote de US$ 1,5 bilhão (aproximadamente R$ 8,1 bilhões) para Kiev durante uma conferência de paz na Suíça, o candidato republicano minimizava o suporte irrestrito dos EUA ao país, rotulando Zelensky como “o maior charlatão da história”, em um comício em Detroit.
“Quatro dias atrás, ele saiu com US$ 60 bilhões. Retorna e diz que precisa de outros US$ 60 bilhões. Isso parece não ter fim. Eu resolverei isso antes de assumir a presidência”, assegurou Trump a seus apoiadores, fornecendo dados incorretos e imprecisos sobre a legislação de ajuda externa aprovada em abril pelo presidente Joe Biden.
Trump reiterou que cortaria a assistência de defesa para a Ucrânia se vencesse as eleições de novembro e argumentou que a Rússia não teria invadido a Ucrânia se ele, e não Biden, estivesse no poder.
A mudança política iminente nos EUA, somada aos avanços da extrema direita no Parlamento Europeu, traz incertezas para Zelensky. A conferência de paz na Suíça concluiu sem um consenso unificado. Nações do Sul Global, incluindo Brasil, Índia, África do Sul e Arábia Saudita, não endossaram o documento final que apoiava a soberania territorial da Ucrânia. As declarações de Trump e seu apoio ao líder russo Vladimir Putin reforçam a postura desestabilizadora do candidato republicano em relação à segurança ucraniana.
“É um período verdadeiramente notável. Temos um ex-presidente, atualmente fora do poder, ditando a política externa americana com interesses alinhados a um ditador estrangeiro”, comenta Anne Applebaum, colunista da revista “The Atlantic”.
Na semana passada, em Puglia, na Itália, Biden e seus colegas do G7 organizaram um empréstimo de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 270 bilhões) para a Ucrânia, provenientes de juros de ativos russos congelados pelo Ocidente, numa reunião que exalava urgência para firmar um acordo que garantisse o suporte à Ucrânia, independentemente do resultado das eleições americanas.
Durante uma visita ao Capitólio, Trump pressionava os republicanos, reafirmando sua aversão à aprovação de novos pacotes de ajuda para a Ucrânia. Ele também se mostra cético quanto ao papel da Otan, desafiando frequentemente os aliados europeus a aumentarem suas contribuições para a aliança atlântica.
Em fevereiro, durante um comício na Carolina do Sul, Trump sugeriu que encorajaria a Rússia a “fazer o que quisesse” com os aliados da Otan que não contribuem adequadamente para a aliança militar ocidental. Essas declarações aumentam a preocupação tanto de Zelensky quanto de seus parceiros europeus de que, num possível segundo mandato de Trump, eles teriam motivos reais para temer a realização de seus piores receios.