A Polícia Federal de Campinas (SP) realizou uma operação na quarta-feira (28), que resultou na prisão de 14 pessoas suspeitas de envolvimento em fraudes financeiras que totalizam R$ 7,5 bilhões. Entre os detidos estão os dois sócios de bancos digitais investigados por oferecerem contas irregulares.
As chamadas “fintechs”, que são bancos digitais, não tinham autorização do Banco Central para atuar no Sistema Financeiro Nacional. As empresas sob investigação são a Inovebanco e a T10 Bank. Patrick Burnett e José Rodrigues, sócios dessas duas empresas, foram presos durante a operação.
A EPTV, afiliada da TV Globo, e o g1 tentaram entrar em contato com a T10 Bank para obter um posicionamento da defesa, mas não obtiveram resposta. A Inove Global Group informou que seus advogados ainda não tiveram acesso completo ao conteúdo da investigação.
“A empresa nega veementemente qualquer relação com os fatos mencionados pelas autoridades e divulgados pela imprensa. Além disso, reforça sua total disposição em colaborar com as investigações. É importante destacar que o Inove Global Group é uma empresa de tecnologia voltada para meios de pagamento, e não uma instituição financeira ou banco digital”, afirmou a empresa em nota.
Veja abaixo mais detalhes sobre os dois sócios envolvidos.
Operação da PF contra crimes financeiros investiga as atividades de dois bancos em Campinas
Patrick Burnett é o presidente do Inovebanco. Em seu site oficial, a instituição se descreve como uma solução segura em meios de pagamento para empresas de todos os portes, oferecendo serviços como maquininhas de cartão, gestão de recebíveis, seguros, benefícios e integrações sistêmicas.
Diversas entrevistas com Patrick sobre o mercado financeiro podem ser encontradas online. Segundo seu perfil no LinkedIn, ele estudou economia na PUC-Campinas de 2001 a 2004.
No LinkedIn, Burnett também se apresenta como CEO e fundador de várias empresas que compõem o Inove Global Group. Além disso, ele ocupa o cargo voluntário de curador de inovação no Grupo de Líderes Empresariais (LIDE).
“Minha carreira foi dedicada a explorar novos caminhos no setor financeiro, utilizando tecnologia para oferecer soluções inovadoras e acessíveis a todos. Minha missão é aproximar as pessoas das oportunidades do mundo digital e empoderá-las com ferramentas financeiras modernas”, descreve ele em seu perfil.
José Rodrigues, advogado conhecido em Campinas e proprietário do escritório Plácido e Rodrigues, no Cambuí, é o fundador do T10 Bank. Ele também é suplente de deputado federal pelo PP.
Com um perfil no Instagram que acumula 47 mil seguidores, Rodrigues se apresenta como advogado empresarial, empreendedor e autor do livro “Dr. Poder”.
Suas postagens incluem diversas fotos de viagens ao redor do mundo. Em uma das publicações, Rodrigues menciona que é um advogado experiente que ajudou centenas de empresas a economizar milhões em dívidas bancárias e tributárias.
O T10 Bank se define como uma “solução digital completa, projetada para a realidade dos empresários brasileiros, desenvolvida por quem vive essa realidade há mais de 20 anos”.
O que são as fintechs (bancos digitais) investigadas?
Normalmente, fintechs são empresas que atuam no mercado financeiro utilizando tecnologia intensiva, com o objetivo de inovar. Elas são geralmente consideradas instituições de pagamento e oferecem, principalmente, maquininhas de cartão de débito e crédito.
Quem eram os clientes das fintechs investigadas?
De acordo com a Polícia Federal, os clientes das duas empresas eram “sonegadores contumazes” com altas dívidas e bloqueios tributários, que usavam as fintechs para burlar a execução fiscal. Esse esquema permitia que esses clientes movimentassem grandes quantias sem serem detectados pelo Sistema Financeiro Nacional.
Entre os clientes que utilizavam essas contas digitais, a investigação identificou uma pessoa com R$ 254 milhões em dívidas inscritas na dívida ativa da União.
Como funcionava o esquema?
As fintechs investigadas possuíam uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional, conhecida como “bolsão”, usada para realizar transações com o dinheiro de seus clientes de forma “invisível”, tornando praticamente impossível rastreá-las. Veja o exemplo abaixo:
- A pessoa física “A” tem contas bloqueadas e deseja continuar ativa no mercado financeiro, realizando transações e movimentando valores. Ela abre uma conta na fintech e a controla por meio de um aplicativo.
- A pessoa “A” faz uma transferência para a pessoa “B” usando o aplicativo da fintech.
- A fintech possui uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional.
- Quando a transferência é feita, na verdade, a pessoa “A” está transferindo para a conta jurídica da fintech no banco comercial.
- Como a pessoa “A” não tem vínculo direto com o banco comercial, seu nome não aparece no extrato, mas sim o nome da fintech. A transferência para a pessoa “B” aparece no extrato como sendo originada pela pessoa jurídica da fintech, ocultando a identidade da pessoa “A”. Nesse esquema, a pessoa “A” permanece invisível e consegue manter seu patrimônio livre de restrições.
A investigação apontou que, entre 2020 e 2023, as duas fintechs movimentaram R$ 3,5 bilhões, segundo a Polícia Federal.
No total, foram cumpridos dez mandados de prisão preventiva, sete de prisão temporária e 60 mandados de busca e apreensão, todos expedidos pela 9ª Vara Federal de Campinas. Os alvos estavam espalhados por 15 cidades nos estados de São Paulo e Minas Gerais.